terça-feira, 24 de julho de 2012

CONFÚCIO E A CULTURA CHINESA



    "É conveniente chamar K'ung-fu-tzu pela versão latinizada do seu nome chinês, Confúcio, que lhe foi atribuída pelos europeus do século XVII, mais de dois mil anos depois do seu nascimento, em meados do século VI a.C. Ele viria a ser mais profundamente respeitado na China do que qualquer outro filósofo. Suas palavras ou as que lhe foram atribuídas, moldaram o pensamento dos seus compatriotas por dois mil anos. Descendente de uma família SHIH, da pequena nobreza, ele passou algum tempo como ministro de Estado e responsável pelos celeiros. Como não conseguiu encontrar um governante que pusesse em prática as suas recomendações para um governo justo, dedicou-se à meditação e ao ensino. O seu objetivo era o de apresentar uma versão purificada e mais abstrata das verdades que acreditava existirem
na essência da prática  tradicional e assim reviver a integridade pessoal e o serviço desinteressado na classe governante.
Era conservador reformista. Acreditava que em algum lugar do passado existisse uma era mítica em que cada homem conhecia o seu lugar e cumpria o seu dever. O objetivo ético de Confúcio era retornar a esta era. Ele defendia o princípio da ordem: a atribuição do lugar certo para tudo no grande conjunto da experiência. A expressão deste princípio consistia numa forte predisposição para apoiar as instituições. Estes ensinamentos provavelmente produziriam homens respeitadores da cultural tradicional, que enfatizariam o valor DOS BONS COSTUMES e do COMPORTAMENTO CORRETO e procurariam entender às suas obrigações morais num escrupuloso cumprimento do dever.
     "Os ensinamentos tiveram sucesso imediato, uma vez que muitos discípulos de Confúcio conquistaram fama e sucesso mundiais (embora os seus ensinamentos deplorassem a perseguição consciente a estes objetivos, insistindo, em vez disto,
numa humildade cavalheiresca). Mas também foram bem sucedidos num sentido mais profundo e duradouro, uma vez que gerações de funcionários públicos chineses mais tarde seriam treinados nos preceitos de comportamento e de governo estabelecidos por Confúcio. Os textos que ele deixou (nem todos autênticos) passaram a ser tratados com um certo respeito religioso e foram usados durante séculos num todo criativo para moldar gerações de governantes da China em preceitos que se acreditava que Confúcio aprovaria (é surpreendente o paralelismo com o uso posterior da Bíblia, pelos
menos nos países protestantes). No entanto, Confúcio tinha pouco a dizer a respeito do sobrenatural, e ele não era, no sentido vulgar do termo, um mestre "RELIGIOSO" (o que pode explicar por que outros mestres tiveram maior sucesso com
o povo). Ele se preocupava mais com os deveres práticos. O pensamento chinês que se seguiu parece menos perturbador do que outras tradições intelectuais por incertezas angustiantes quanto a assuntos como a realidade do presente ou a possibilidade da  salvação pessoal. Os filósofos chineses não se interessavam muito em mapear o conhecimento por meio de um sistemático questionamento da mente sobre a natureza e a extensão dos seus próprios poderes. As lições do passado,
a sabedoria de tempos anteriores e a manutenção da BOA ORDEM teriam mais importância do que a reflexão sobre enigmas teológicos e quebra-cabeças filosóficos ou a procura de segurança nos braços de deuses obscuros. Além disto, o tom da
tradição intelectual chinesa depois de Confúcio deve menos ao ensinamento de indivíduos do que à tradição europeia, metódica e interrogativa.
     "No entanto, apareceram sistemas opostos ao confucionismo. Supõe-se que Lao-Tsé, um sábio cuja vasta fama esconde o fato de nada sabermos virtualmente a seu respeito, seja o autor do texto que é o documento principal de um sistema filosófico mais tarde intitulado “TAOÍSMO”. Este sistema advogava o desprezo positivo a grande parte do que o confucionismo defendia: por exemplo, o respeito à ordem estabelecida, o decoro e a escrupulosa observância das tradições e dos cerimoniais.
O taoísmo incitava à identificação com uma submissão a um conceito já disponível no pensamento chinês, e familiar a Confúcio, o TAO, ou "O CAMINHO", princípio cósmico que perpassa e sustenta harmoniosamente o universo ordenado. Os resultados
práticos deste princípio, talvez sejam quietismo político, desprendimento e idealização da simplicidade e da pobreza. Mêncio (Meng-Tzu), outro sábio surgido mais tarde, no século IV a.C., ensinou os homens a buscarem o bem-estar da humanidade no
desenvolvimento das lições de Confúcio e não no seu distanciamento. Porém, todas as escolas filosóficas chinesas levavam em conta os ensinamentos de Confúcio, tão grandes foram o seu prestígio e a sua influência. O efeito toral é definitivo do confucionismo é imponderável e o seu grande período de influência se estabeleceram padrões e ideais para as elites dirigentes que sobrevivem até hoje. Os seus ensinamentos acentuavam uma preocupação com o passado que daria uma tendência
característica à historiografia chinesa e que pode ter tido um efeito prejudicial na investigação científica. Muitos dos  seus preceitos, por exemplo, a PIEDADE FILIAL, também se infiltraram na cultura popular por meio de histórias e motivos tradicionais
da arte. Assim se solidificou uma civilização em que as características mais marcantes já estavam arraigadas por volta do século III a.C..
     "A arte chinesa ainda é o aspecto mais acessível e de apelo mais imediato do que hoje resta da antiga China. Pouco resta das arquiteturas Chang e Chou; em geral as construções eram de madeiras e os túmulos pouco revelam. Por outro lado, as
escavações demonstram uma capacidade para a construção maciça; as muralhas de uma das capitais Chou foram feitas de terra batida, com nove metros de altura por doze de espessura. Porem objetos menores e mais abundantes revela, dos primitivos
tempos Chang, uma civilização já capaz de um trabalho refinado, sobretudo em cerâmica, insuperável no mundo antigo. E os grandes bronzes deste período continuariam a ser produzido ininterruptamente daí por diante. A arte de moldar recipientes sacrificais, vasos, jarras para vinho, armas e tripés já estava no seu apogeu em 1600 a.C.. A fundição do bronze aparece tão subitamente e num nível tão elevado de qualidade que durante muito tempo se procurou explicá-la pela transmissão da técnica a partir do exterior nos tempos primitivos; não há qualquer evidência da sua presença em outros lugares antes de meados do primeiro milênio antes de Jesus Cristo. Tampouco foram encontrados, fora da China, em datas primitivas, outros objetos a que os artistas chineses dedicaram sua atenção, como gravuras, de belos e complicados desenhos, em pedra e jade. Além do que pôde absorver dos seus bárbaros vizinhos nômades, a China pouco se interessou pelo mundo exterior até a plena era histórica. A civilização chinesa não demonstrou maior potencial do que a indiana em se expandir além do seu enorme berço".



           P.S.  Extraído do Livro da Pré-História à idade Contemporânea. Autor (?).

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