CARLOS STUDART - UM CEARENSE
DE OURO NO AMAZONAS
“Carlos “Studart, que viveu no Amazonas por muitos anos, nasceu em Fortaleza Ceará” a 28 de março de 1862”. Era filho de John Uilliam Studart, um inglês que viera de sua terra para o Brasil quando tinha onze anos de idade, identificando-se com o Brasil por toda a vida, dedicada ao comércio.
"William Studart casou-se com brasileira, seus filhos, instruídos, se
tornaram em homens notáveis nas ciências, nas indústrias e no comércio,
destacadamente Guilherme Chambly Studart, de renome continental pelos grandes serviços à cultura e
à humanidade, mais conhecido pelo designativo honorífico - Barão Studart.
“Carlos
Studart ficou órfão de mãe aos cinco anos de idade”. Seu pai convolou novas
núpcias com a cunhada, Dona Augusta de Castro Studart, sob cujos cuidados,
inclusive educação fica o sobrinho e enteado. Convém registrar o carinho e a
capacidade da madrasta tia, no ensinar-lhe as primeiras letras.
“Adolescente
ainda, Carlos Studart faz sentir aos pais que desejava começar a vida,
trabalhando no comércio”. Obtém permissão para seguir rumo a Pernambuco, sob
orientação do Cônsul inglês, no Recife (Pernambuco). Ali aportando, emprega-se
ao serviço de uma firma que transitava com fazendas.
“É preciso
recordar que, à época, a primeira colocação de um rapaz, num estabelecimento
comercial, era o de CAXEIRO-VASSOURA, fosse ele filho de um plebeu ou de um
fidalgo”. Era tratado com rigor, chegando ao ponto de o caixeiro graduado,
aquele que não mais pegava no espanador, nem no cabo da vassoura, nem conduzia, nas costas ou na cabeça grandes embrulhos pelas ruas, não dar trela ao seu colega de categoria inferior. CAXEIRO-VASSOURA era um criado sem categoria. Pois foi por esse emprego que Carlos Studart começou, em Recife, Pernambuco.
aquele que não mais pegava no espanador, nem no cabo da vassoura, nem conduzia, nas costas ou na cabeça grandes embrulhos pelas ruas, não dar trela ao seu colega de categoria inferior. CAXEIRO-VASSOURA era um criado sem categoria. Pois foi por esse emprego que Carlos Studart começou, em Recife, Pernambuco.
“Seu
ofício consistia em fazer a limpeza da casa e conduzir, às residências dos
fregueses ou às lojas de negócio, os fardos de fazenda que haviam comprados”.
Carlos Studart, que era um moço franzino, não se podia queixar, nem do peso
esmagador, nem das longas distâncias. Não adiantava mudar de estabelecimento,
nem de cidade. O regime era duro, em contraste com o trato na residência de sua
família. A experiência lhe tinha sido adversa e acendido, em sua alma, a
explosão de uma revolta e o amor de sua independência. Resolve regressar a casa
paterna (Fortaleza - Ceará), não como filho pródigo da fábula que dera um salto
no escuro, mas cheio daquela experiência, que se lhe transformou em lição. Foi
indescritível a alegria com que o receberam em sua casa.
“Nessa
ocasião, corre uma reviravolta nos negócios de John William Studart, levando-o
quase a falência”. Hábil timoneiro contorna a adversidade, pondo em ação seu
barco. Têm-se visto que, no curso da história, AS DESGRAÇAS SÃO GÊMEAS. Assim foi
para a família Studart: faleceu o seu chefe John William Studart, a 20 de
fevereiro de 1878, em Fortaleza, Ceará, com a idade de 59 anos. Carlos Studart
segue para Salvador (Bahia), em cuja Escola de Medicina seus irmãos acabavam de
receber as láureas do estabelecimento. Sua estada ali lhe ensejou estudar e
realizar seus preparatórios vestibulares. No interim, apareceu-lhe uma ideia
nova: a de ser militar. No pressuposto, Carlos Studart viaja para o Rio de
Janeiro, a fim de ingressar na Escola Militar.
"Recém-chegado
ao Rio de Janeiro, diz o seu filho e biógrafo, General Carlos Studart Filho,
ardentemente desejava alistar-se, cadete. Estava, porém praticamente só naquela
grande e estranha cidade, sem apoio, nem amigos que o orientassem, na consecução
de seus projetos; os parentes, em cuja casa se hospedara, não viam com os bons
olhos a esdrúxula inclinação do moço estudante pela carreira das armas e, por
isso, não queriam dar-lhe o auxílio de que tanto carecia. Em tão aflitivo
momento, resolveu valer-se do General Osório, então Ministro da Guerra do
Gabinete Sinimbu. Procura em sua residência e lhe expõe os seus anelos. Velho e
benemérito militar ouviram-no com bondade e logo procurou dissuadi-lo desse
propósito, fazendo ver a insensatez dos seus sonhos e toda a grandeza da
pretensão. Havia poucas vagas no modelar estabelecimento do ensino, e estas se
designavam a filhos e protegidos dos altos figurões do Império (NAQUELA ÉPOCA
JÁ EXISTIA TÃO SÓRDIDA BANDALHEIRA). Ele, um provinciano bisonho, sem
padrinhos, nem boas amizades na Corte, que poderia esperar? (Meu Pai", p.
116).
"Diante dos fatos, tendo gasto cerca de três anos em tentativas frustradas,
Carlos Studart regressa a Salvador (Bahia) e matricula-se na Escola de
Medicina*, realiza o curso de Farmácia, diplomando-se em 18 de setembro de
1882. Munido de seu diploma, retorna a Fortaleza (Ceará), onde funda a FARMÁCIA
STUDART, no centro comercial da cidade, a poucos passos da, já então famosa,
Praça do Ferreira**.
“Quando
Carlos Studart se retirou de Salvador (BA) para Fortaleza (CE), lá deixara um
compromisso de casamento com Dona Maria Elvira Morais, o que cumpriu, em
Salvador, em 1883”. Mas foi um enlace transitório, pois Dona Maria Elvira de
Morais Studart veio a falecer, em Fortaleza, a 12 de setembro de 1884, sem
descendentes.
"Carlos Studart contrai novas núpcias com sua prima Dona Maria da Fonseca
Pereira, filha do comerciante Capitão Antônio Joaquim Pereira. Deste seu
matrimônio, houve os seguintes filhos: Arthur Pereira Studart, farmacêutico,
bacharel em direito, médico e industrial, nascido em Fortaleza a 4 de maio de
1886, e que a 30 de junho de 1910 se consorciou com a prima Dona Leonísia da
Cunha Studart; Hilda Pereira Studart, viúva do bacharel em direito, José Maria
Corrêa de Araújo, nascida em Fortaleza a 10 de novembro de 1887 e
falecida, no Rio de Janeiro (RJ) em novembro de 1961; Beatriz Pereira Studart,
viúva do bacharel em direito José Alves de Souza Brasil, nascida em Fortaleza a
19 de dezembro de 1891 e Carlos Studart Filho, doutor em medicina e general
professor, nascido em Fortaleza a 17 de junho de 1897, casado a 13 de novembro
de 1924 com Dona Neusa Dinoá da Costa. ("Meu Pai", p. 18).
“Carlos
Studart” casou-se pela 3º vez, sendo sua esposa Dona Francisca Rodrigues das
Neves, de quem teve uma filha, Dona Emília Studart; “Tomando parte nas
atividades políticas no Ceará, entregue a gerência da FARMÁCIA STUDART a um seu
primo e, logo, percorre o interior da Província em propaganda partidária e abolicionista,
às vezes correndo o risco das tocaias”.
“Com os
lucros de sua farmácia, aproveita os ensejos e adquire propriedades, no
sertão”. Durante cerca de três anos de andanças, esquadrinhou muitos
Municípios, até regressar definitivamente à capital (Fortaleza).
“Não lhe
interessava cargos públicos”. Certa ocasião, todavia, aceitou a função de
Preparador de Química, no tradicional Liceu do Ceará e os trabalhos de
farmacêutico da CENTENÁRIA Santa Casa de Misericórdia.
“A
Amazônia, no último decênio do século XIX e no do passado, era a Gioconda do
Brasil.”. O Nordeste movia-se rumo às florestas do Rio-Mar (Rio Amazonas).
“Carlos
Studart resolveu partir com a família”. Ia enfrentar o incógnito da terra misteriosa
e acolhedora.
"Deixa
Fortaleza a 4 de junho de 1889 e aporta em Manaus (AM) em 12 do mesmo mês. Não
era um retirante forçado pela MAZELA DA SECA que sempre assolara o Nordeste
brasileiro que ali chegava, mas um voluntário do destino, que não tinha as algibeiras
vazias. Saltando, viu que pisava em terra firme, cercada de gente de expressão
acolhedoras (100% de cearenses seus conterrâneos), que lhe fizeram aumentar e
vibrar as esperanças. Chegou, viu e haveria de vencer.
“Semiambientado,
sobretudo no seio da numerosa “COLÔNIA CEARENSE”, cruza o centro da cidade, num
época em que se iniciativa o RUSH da valorização da BORRACHA”. Encontra na
esquina da florescente Av. Eduardo Ribeiro e da Rua Municipal, mais tarde Av.
Sete de Setembro***, o ponto estratégico para assentar a base dos seus esforços
e, aí, instala a FARMÁCIA STUDART, homônima daquela que fundara e deixara
em Fortaleza (CE). Estava montado a cavaleiro para as lutas do comércio e da riqueza.
“O
estabelecimento vivia abastecido de “drogas” nacionais e estrangeiras, de que
havia de mais moderno e acreditado”. A FARMÁCIA STUDART não havia mãos a medir
nas preferências de uma grande freguesia.
“Carlos
Studart prosperou rapidamente”. Sua residência particular enchia-se de conterrâneos
(CEARENSES). Com a franqueza que lhe era habitual, sua mesa de refeições,
máxime nos domingos e feriados, parecia a de um PATRIARCA JUDEU. E, ele o era
espiritualmente.
“O irmão
do Barão de Studart tinha na alma e no sangue, algo dos seus antepassados, da
linha paterna: qualquer coisa de nômade e de aventureiro”. E, pela etnia
materna, o mesmo fenômeno, traçado pelo ATAVISMO: O NORDESTINO DIGA-SE AS
PESSOAS MAIS 'ANDEJAS' DO MUNDO. Onde quer que se chegue nós paramos na velha
China e no vetusto Japão, encontram-se filhos da terra de IRACEMA (Se o
maravilhoso escritor e poeta José Martiniano de Alencar, CEARENSE estivesse vivo,
daria, sem dúvida alguma, MARAVILHOSA “QUÁ-QUÁ-QUÁS, pela FRASEOLOGIA citado”).
“Durante
os 30 anos em que esteve no Amazonas, pequenos espaços de tempo permaneceu na
sua farmácia”. É que seu espírito de direção, na sua ausência, ficava
otimamente entregue ao escalão da competência e da lealdade.
“Na gíria
popular, era homem que não ‘esquentava lugar’”.
"Itinerante incansável, Carlos Studart derivou repetidas vezes para o
Velho Continente (Europa) e, entre 1905 e 1911, cruzou, ora só, ora acompanhado
da família, doze vezes o Atlântico (Obra cit.; 31). Em suas excursões, visitou
países mais adiantados da Europa, não esquecendo as terras em que nasceram os
trisavós, os Studart (Inglaterra).
“Depois da
primeira Grande Guerra, suas viagens, também por várias vezes, era para a sua
terra querida, o CEARÁ e para o Rio de Janeiro”.
“Dentro do
Amazonas, consta ter feito, apenas uma viagem: esteve no Rio Juruá, até São
Felipe, hoje, Eirunepé”.
“Em 1921,
liquidou seus negócios em Manaus e transferiu-se para São Paulo, fazendo-se
industrial, manipulando o seu LEITE DE COLÔNIA, de extraordinária procura”. Com
este produto de beleza Carlos Studart recheou sua algibeira, em pouco tempo,
tornando-se milionário. Parte de sua fortuna empregou na construção de dois
arranha-céus, no Rio de Janeiro, dando a um deles o nome de 'Manaus', grata
lembrança da terra hospitaleira.
"Carlos Studart era um homem franzino. Sua estatura ia pouco acima da meã
e nascera com um defeito vocal, que o privava da articulação perfeita da
fonação de certas sílabas. Foi isto, sem dúvida que impressionou o General Osório,
quando o rapaz pretendeu seguir o curso das armas. Mas, o destino reservara-lhe
uma ÂNFORA DE OURO a esse saudoso e BRAVO CEARENSE, que seria a sua FARMÁCIA
STUDART, com o seu trabalho, e ele a fez transbordar. Com o seu espírito de
caridade, dessedentou a milhões de pessoas, que iam bater à sua residência.
"Por ocasião
do seu centenário de nascimento, a 28 de março de 1962, recebeu de parentes,
amigos, conterrâneos e conhecidos, uma verdadeira CONSAGRAÇÃO. ERA O PRÊMIO DA
VIRTUDE, vindo a falecer, no doce aconchego da família e da consternação geral,
destacadamente do Amazonas, no Rio de Janeiro, quando já havia completado 103
anos de idade”.
P.S. *A mais antiga Faculdade de Medicina do Brasil.
** A Praça mais CHARMOSA e BONITA do
mundo.
*** Hoje é uma Sapataria, naquela
esquina defronte ao prédio da antiga LOBRÁS.