sexta-feira, 20 de julho de 2012

VULTOS ANÔNIMOS DA AMAZÔNIA


  CARLOS STUDART - UM CEARENSE DE OURO NO AMAZONAS

      “Carlos “Studart, que viveu no Amazonas por muitos anos, nasceu em Fortaleza Ceará” a 28 de março de 1862”. Era filho de John Uilliam Studart, um inglês que viera de sua terra para o Brasil quando tinha onze anos de idade, identificando-se com o Brasil por toda a vida, dedicada ao comércio.
     "William Studart casou-se com brasileira, seus filhos, instruídos, se tornaram em homens notáveis nas ciências, nas indústrias e no comércio, destacadamente Guilherme Chambly Studart, de renome  continental pelos grandes serviços à cultura e à humanidade, mais conhecido pelo designativo honorífico - Barão Studart.
     “Carlos Studart ficou órfão de mãe aos cinco anos de idade”. Seu pai convolou novas núpcias com a cunhada, Dona Augusta de Castro Studart, sob cujos cuidados, inclusive educação fica o sobrinho e enteado. Convém registrar o carinho e a capacidade da madrasta tia, no ensinar-lhe as primeiras letras.
     “Adolescente ainda, Carlos Studart faz sentir aos pais que desejava começar a vida, trabalhando no comércio”. Obtém permissão para seguir rumo a Pernambuco, sob orientação do Cônsul inglês, no Recife (Pernambuco). Ali aportando, emprega-se ao serviço de uma firma que transitava com fazendas.
     “É preciso recordar que, à época, a primeira colocação de um rapaz, num estabelecimento comercial, era o de CAXEIRO-VASSOURA, fosse ele filho de um plebeu ou de um fidalgo”. Era tratado com rigor, chegando ao ponto de o caixeiro graduado,
aquele que não mais pegava no espanador, nem no cabo da vassoura, nem conduzia, nas costas ou na cabeça grandes embrulhos pelas ruas, não dar trela ao seu colega de categoria inferior. CAXEIRO-VASSOURA era um criado sem categoria. Pois foi por esse emprego que Carlos Studart começou, em Recife, Pernambuco.
     “Seu ofício consistia em fazer a limpeza da casa e conduzir, às residências dos fregueses ou às lojas de negócio, os fardos de fazenda que haviam comprados”. Carlos Studart, que era um moço franzino, não se podia queixar, nem do peso esmagador, nem das longas distâncias. Não adiantava mudar de estabelecimento, nem de cidade. O regime era duro, em contraste com o trato na residência de sua família. A experiência lhe tinha sido adversa e acendido, em sua alma, a explosão de uma revolta e o amor de sua independência. Resolve regressar a casa paterna (Fortaleza - Ceará), não como filho pródigo da fábula que dera um salto no escuro, mas cheio daquela experiência, que se lhe transformou em lição. Foi indescritível a alegria com que o receberam em sua casa.
     “Nessa ocasião, corre uma reviravolta nos negócios de John William Studart, levando-o quase a falência”. Hábil timoneiro contorna a adversidade, pondo em ação seu barco. Têm-se visto que, no curso da história, AS DESGRAÇAS SÃO GÊMEAS. Assim foi para a família Studart: faleceu o seu chefe John William Studart, a 20 de fevereiro de 1878, em Fortaleza, Ceará, com a idade de 59 anos. Carlos Studart segue para Salvador (Bahia), em cuja Escola de Medicina seus irmãos acabavam de receber as láureas do estabelecimento. Sua estada ali lhe ensejou estudar e realizar seus preparatórios vestibulares. No interim, apareceu-lhe uma ideia nova: a de ser militar. No pressuposto, Carlos Studart viaja para o Rio de Janeiro, a fim de ingressar na Escola Militar.
     "Recém-chegado ao Rio de Janeiro, diz o seu filho e biógrafo, General Carlos Studart Filho, ardentemente desejava alistar-se, cadete. Estava, porém praticamente só naquela grande e estranha cidade, sem apoio, nem amigos que o orientassem, na consecução de seus projetos; os parentes, em cuja casa se hospedara, não viam com os bons olhos a esdrúxula inclinação do moço estudante pela carreira das armas e, por isso, não queriam dar-lhe o auxílio de que tanto carecia. Em tão aflitivo momento, resolveu valer-se do General Osório, então Ministro da Guerra do Gabinete Sinimbu. Procura em sua residência e lhe expõe os seus anelos. Velho e benemérito militar ouviram-no com bondade e logo procurou dissuadi-lo desse propósito, fazendo ver a insensatez dos seus sonhos e toda a grandeza da pretensão. Havia poucas vagas no modelar estabelecimento do ensino, e estas se designavam a filhos e protegidos dos altos figurões do Império (NAQUELA ÉPOCA JÁ EXISTIA TÃO SÓRDIDA BANDALHEIRA). Ele, um provinciano bisonho, sem padrinhos, nem boas amizades na Corte, que poderia esperar? (Meu Pai", p. 116).
     "Diante dos fatos, tendo gasto cerca de três anos em tentativas frustradas, Carlos Studart regressa a Salvador (Bahia) e matricula-se na Escola de Medicina*, realiza o curso de Farmácia, diplomando-se em 18 de setembro de 1882. Munido de seu diploma, retorna a Fortaleza (Ceará), onde funda a FARMÁCIA STUDART, no centro comercial da cidade, a poucos passos da, já então famosa, Praça do Ferreira**.
     “Quando Carlos Studart se retirou de Salvador (BA) para Fortaleza (CE), lá deixara um compromisso de casamento com Dona Maria Elvira Morais, o que cumpriu, em Salvador, em 1883”. Mas foi um enlace transitório, pois Dona Maria Elvira de Morais Studart veio a falecer, em Fortaleza, a 12 de setembro de 1884, sem descendentes.
     "Carlos Studart contrai novas núpcias com sua prima Dona Maria da Fonseca Pereira, filha do comerciante Capitão Antônio Joaquim Pereira. Deste seu matrimônio, houve os seguintes filhos: Arthur Pereira Studart, farmacêutico, bacharel em direito, médico e industrial, nascido em Fortaleza a 4 de maio de 1886, e que a 30 de junho de 1910 se consorciou com a prima Dona Leonísia da Cunha Studart; Hilda Pereira Studart, viúva do bacharel em direito, José Maria Corrêa de Araújo, nascida em Fortaleza a  10 de novembro de 1887 e falecida, no Rio de Janeiro (RJ) em novembro de 1961; Beatriz Pereira Studart, viúva do bacharel em direito José Alves de Souza Brasil, nascida em Fortaleza a 19 de dezembro de 1891 e Carlos Studart Filho, doutor em medicina e general professor, nascido em Fortaleza a 17 de junho de 1897, casado a 13 de novembro de 1924 com Dona Neusa Dinoá da Costa. ("Meu Pai", p. 18).
     “Carlos Studart” casou-se pela 3º vez, sendo sua esposa Dona Francisca Rodrigues das Neves, de quem teve uma filha, Dona Emília Studart; “Tomando parte nas atividades políticas no Ceará, entregue a gerência da FARMÁCIA STUDART a um seu primo e, logo, percorre o interior da Província em propaganda partidária e abolicionista, às vezes correndo o risco das tocaias”.
     “Com os lucros de sua farmácia, aproveita os ensejos e adquire propriedades, no sertão”. Durante cerca de três anos de andanças, esquadrinhou muitos Municípios, até regressar definitivamente à capital (Fortaleza).
     “Não lhe interessava cargos públicos”. Certa ocasião, todavia, aceitou a função de Preparador de Química, no tradicional Liceu do Ceará e os trabalhos de farmacêutico da CENTENÁRIA Santa Casa de Misericórdia.
     “A Amazônia, no último decênio do século XIX e no do passado, era a Gioconda do Brasil.”. O Nordeste movia-se rumo às florestas do Rio-Mar (Rio Amazonas).
     “Carlos Studart resolveu partir com a família”. Ia enfrentar o incógnito da terra misteriosa e acolhedora.
    "Deixa Fortaleza a 4 de junho de 1889 e aporta em Manaus (AM) em 12 do mesmo mês. Não era um retirante forçado pela MAZELA DA SECA que sempre assolara o Nordeste brasileiro que ali chegava, mas um voluntário do destino, que não tinha as algibeiras vazias. Saltando, viu que pisava em terra firme, cercada de gente de expressão acolhedoras (100% de cearenses seus conterrâneos), que lhe fizeram aumentar e vibrar as esperanças. Chegou, viu e haveria de vencer.
    “Semiambientado, sobretudo no seio da numerosa “COLÔNIA CEARENSE”, cruza o centro da cidade, num época em que se iniciativa o RUSH da valorização da BORRACHA”. Encontra na esquina da florescente Av. Eduardo Ribeiro e da Rua Municipal, mais tarde Av. Sete de Setembro***, o ponto estratégico para assentar a base dos seus esforços e, aí, instala a FARMÁCIA STUDART, homônima daquela que fundara  e deixara em Fortaleza (CE). Estava montado a cavaleiro para as lutas do comércio e da riqueza.
     “O estabelecimento vivia abastecido de “drogas” nacionais e estrangeiras, de que havia de mais moderno e acreditado”. A FARMÁCIA STUDART não havia mãos a medir nas preferências de uma grande freguesia.
     “Carlos Studart prosperou rapidamente”. Sua residência particular enchia-se de conterrâneos (CEARENSES). Com a franqueza que lhe era habitual, sua mesa de refeições, máxime nos domingos e feriados, parecia a de um PATRIARCA JUDEU. E, ele o era espiritualmente.
     “O irmão do Barão de Studart tinha na alma e no sangue, algo dos seus antepassados, da linha paterna: qualquer coisa de nômade e de aventureiro”. E, pela etnia materna, o mesmo fenômeno, traçado pelo ATAVISMO: O NORDESTINO DIGA-SE AS PESSOAS MAIS 'ANDEJAS' DO MUNDO. Onde quer que se chegue nós paramos na velha China e no vetusto Japão, encontram-se filhos da terra de IRACEMA (Se o maravilhoso escritor e poeta José Martiniano de Alencar, CEARENSE estivesse vivo, daria, sem dúvida alguma, MARAVILHOSA “QUÁ-QUÁ-QUÁS, pela FRASEOLOGIA citado”).
     “Durante os 30 anos em que esteve no Amazonas, pequenos espaços de tempo permaneceu na sua farmácia”. É que seu espírito de direção, na sua ausência, ficava otimamente entregue ao escalão da competência e da lealdade.
     “Na gíria popular, era homem que não ‘esquentava lugar’”.
     "Itinerante incansável, Carlos Studart derivou repetidas vezes para o Velho Continente (Europa) e, entre 1905 e 1911, cruzou, ora só, ora acompanhado da família, doze vezes o Atlântico (Obra cit.; 31). Em suas excursões, visitou países mais adiantados da Europa, não esquecendo as terras em que nasceram os trisavós, os Studart (Inglaterra).
     “Depois da primeira Grande Guerra, suas viagens, também por várias vezes, era para a sua terra querida, o CEARÁ e para o Rio de Janeiro”.
     “Dentro do Amazonas, consta ter feito, apenas uma viagem: esteve no Rio Juruá, até São Felipe, hoje, Eirunepé”.
     “Em 1921, liquidou seus negócios em Manaus e transferiu-se para São Paulo, fazendo-se industrial, manipulando o seu LEITE DE COLÔNIA, de extraordinária procura”. Com este produto de beleza Carlos Studart recheou sua algibeira, em pouco tempo, tornando-se milionário. Parte de sua fortuna empregou na construção de dois arranha-céus, no Rio de Janeiro, dando a um deles o nome de 'Manaus', grata lembrança da terra hospitaleira.
     "Carlos Studart era um homem franzino. Sua estatura ia pouco acima da meã e nascera com um defeito vocal, que o  privava da articulação perfeita da fonação de certas sílabas. Foi isto, sem dúvida que impressionou o General Osório, quando o rapaz pretendeu seguir o curso das armas. Mas, o destino reservara-lhe uma ÂNFORA DE OURO a esse saudoso e BRAVO CEARENSE, que seria a sua FARMÁCIA STUDART, com o seu trabalho, e ele a fez transbordar. Com o seu espírito de caridade, dessedentou a milhões de pessoas, que iam bater à sua residência.
     "Por ocasião do seu centenário de nascimento, a 28 de março de 1962, recebeu de parentes, amigos, conterrâneos e conhecidos, uma verdadeira CONSAGRAÇÃO. ERA O PRÊMIO DA VIRTUDE, vindo a falecer, no doce aconchego da família e da consternação geral, destacadamente do Amazonas, no Rio de Janeiro, quando já havia completado 103 anos de idade”.

          P.S. *A mais antiga Faculdade de Medicina do Brasil.
       ** A Praça mais CHARMOSA e BONITA do mundo.
       *** Hoje é uma Sapataria, naquela esquina defronte ao prédio da antiga LOBRÁS.

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