sexta-feira, 25 de maio de 2012

LIBERDADE, ALEGRIA, ESPERANÇA DE ISRAEL

    

     O mito em que repousa a existência nacional, ainda mais poderoso por possuir uma realidade
 histórica e certa, é o da saída do Egito (África) e da libertação. A Páscoa hebraica é a festa principal.
 Ela recorda aos hebreus a dureza da escravidão sob o domínio do faraó (na grande realidade de 
vários faraós), a grandeza de Moisés, o milagre de Ihaweh, o Deus libertador, e os benefícios da
liberdade (tesouro maior de um povo). Nunca, sem dúvida, o ideal da libertação foi vivido 
com maior intensidade do que pelos hebreus. Aqui também estamos em presença de um fato global,
 plenamente significativo: a Páscoa celebra a passagem da escravidão à liberdade, da angústia à alegria, 
das trevas à luz, da morte à vida. Ela também consagra a derrota do faraó e de seu povo diante de
 Moisés
 e de  seus escravos hebreus, ela manifesta-se assim, o triunfo de Iahweh Deus de Israel sobre os deuses
 das  nações. A Páscoa é vivida, aliás, todo ano como acontecimento contemporâneo. Cada era deve
 libertar-se de seus faraós e viver o milagre de sua libertação. Cada pessoa em Israel sente-se
diretamente envolvida no acontecimento maior da vida nacional, que também é anunciador da libertação
 absoluta, da última Páscoa messiânica.
      Joel sabe que é livre pela graça de Iahweh, seu deus. Ele está libertado de sua submissão aos mitos
 e os mistérios pagãos, estar libertado dos panteões das nações e da multiplicidade de seus ídolos. Ele se
 sente igualmente livre em relação à natureza, que não é mais conhecida como força cega e fatal. A
 natureza também é uma criatura de Iahweh.
Por isso, ela deixa de ser temível: o homem, criado à imagem e semelhança de Iahweh, tem como 
vocação dominá-la e cultivá-la. Mas ele não deve tornar-se escravo de seu próprio trabalho. Assim, o
 descanso do sétimo dia liberta-o de sua submissão à obra de suas mãos. A lei o subtrai à tentação da
 acumulação capitalista, proibindo o empréstimo a juros e ordenando a revisão do censo em épocas
 fixas. O hebreu, enfim, é libertado por sua fé do ódio e do medo. Ele vive na sublime doçura da presença
 divina, não tem medo da morte. Esta também será vencida. Ele se acha absolutamente reconciliado
com sua condição, daí a incrível alegria de sua vida.
      Nunca a alegria do homem foi cantada com mais fervor, nem com mais gênio, do que pelos hebreus.
 O Livro dos Salmos constitui o livro para sempre atual dos cânticos da felicidade da alma humana 
(isto é lindíssimo) Trata-se de uma alegria densa, dura, iluminada pelas certezas de um conhecimento
 iniciático, pela lucidez de uma visão imperecível.
Mesmo nas horas mais decepcionantes e mais cruéis de sua vida e de sua história, o hebreu sabe 
que três momentos articulam o devir do home. A noite é deixada a iniqüidade do Réprobo, que o justo, na
 oblação da sua alma, deve saber enfrentar até o martírio. No fim da noite, sobrevém o julgamento de Iahweh, 
que assinala a inevitável derrota do Réprobo e garante o triunfo do Bem. A aurora sucede enfim à  noite
 e proclama a glória do reino messiânico. Quando a desgraça se abate, Joel sabe aguardar a hora da alegria.
      Pois a vida cotidiana desses homens cabeludos é consagrada à alegria de sua boda com Iahweh. Seus 
dias são tecidos na alegria de sua Aliança, que seus poetas não cessam de celebrar numa liturgia sem fim. 
Eles cantam o Deus transcendente e permanente que amam e a quem servem. Eles cantam toda a criação, 
que é obra de suas mãos, o céu, a terra, os abismos admirados à luz de Deus. Uma extrema familiaridade
 prende Joel à terra: ele sabe que é irmão do sol, das estrelas, da lua, dos animais que o cercam. Ele canta 
até não poder mais a criação e sua obra-prima – o home -, seu corpo, sua alma, seu gênio. Ele canta, 
enfim, o amor que reveste sua morada. E o Cântico dos Cânticos, escrito a gloria da vida amorosa do
 casal, enfim libertado, é, de certa forma, o canto nacional dos hebreus.
      Sua alegria não é cega. Ela conhece o peso de carne e de sangue do homem, seus limites e a tragédia
 real de sua condição.
Mas ela se nutre, nisso, de lúcida esperança: o homem deve confiar em Iahweh até a hora da plena libertação...
      Cinco sinônimos aparecem na Bíblia para designar a esperança do homem. Iahweh é o verdadeiro nome 
da esperança e é por isso que, mesmo em face da morte, não é vão ter esperança. A esperança é um vínculo 
vivo tecido entre o deus da libertação e Israel, à espera das realidades escatológicas em que a ordem real
 do mundo será restabelecida para sempre na verdade do amor e na plenitude da paz.

     SHALOM!

       José Epitácio Carneiro (C.P.G.)
          (Abhohad Zhohah)


Extraído do Livro os Homens da Bíblia – Autor André Chouraqui – p. 288 a 290
Editora Companhia Das Letras/Círculo do Livro.

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