terça-feira, 29 de maio de 2012

ELEMENTOS DE FORMAÇÃO DA LITERATURA ESPANHOLA


1 - A Raça:
     O povo espanhol se origina de uma complexa fusão de raças. Diversas migrações de povos orientais, muitos séculos antes da era vulgar, vieram ter como terminal das suas incursões o solo espanhol, formando-se aí inúmeras tribus, tão diversas pela origem e pela língua, como pelos usos e costumes.
A - Os Íberos e Celtiberos:
     Aos poucos predominaram os ÍBEROS, originários da Ásia, recebendo então o território a denominação de IBÉRIA. Os íberos parecem ter chegado a essa região pelo onze séculos antes da era cristã, pelo que já eram, havia muito, senhores
daqueles vastos domínios, quando a eles chegaram os celtas. Celtas, os novos invasores, e íberos empenharam-se em duas lutas, acabando, porém, fundindo-se numa só raça e nação, a que os romanos deram o nome de CELTIBERA.
B - Origem dos nomes Espanha e Hespéria:
     Os fenícios, aida na antiguidade, nas suas excursões comerciais pelos mares, aportaram à Espanha e, entrando em contacto com esses celtiberos, deram pela primeira vez o nome de SPANJAH ao país, palavra oriunda de SAPHAN, que
significa COELHO.
     Mais tarde, os gregos, atraídos pelas riquezas do país, bordaram o litoral de inúmeras colônias, e chamavam ao território DESPÉRIA, isto é, região ocidental, e aos habitantes, HESPÉRIOS, isto é, povo do poente.
C - Os Romanos?
     Com os gregos tinha vindo também os cartagineses, desejosos de expandir os seus domínios. Aliaram-se com algumas tribus nativas e levaram as sua fronteiras até às margens do Ebro. É quando os romanos se transportam para a Espanha,
 conseguindo, ao tempo da segunda Guerra Púnica, depois de duras lutas, expulsar definitivamente os cartineses do território.
Conquistadores e senhores absolutos da nova terra, conservaram sob seu poder toda a Ibéria, por espaço de seiscentos anos.
     "Como na Gália, imprimiu Roma na Espanha indelével cunho, ainda hoje visível na magnificência de seus derrocados monumentos. Religião, governo, língua e usanças nacionais desapareceram ou antes fundiram-se na ampla unidade romana.
De tal modo consubstanciou-se o gênio espanhol no de seus dominadores que no período da decadência da literatura latina foram os dois Sênecas, Lucano, Marcial, Floro e Quintiliano os que modularam com cadência e pureza o belo idioma que havia
falado Ovídio, Vergílio (Virgílio), Horácio, César e Cícero.
D - Os Visigodos:
     A dominação romana devia desaparecer no século V, ao choque violento dos bárbaros vindos do norte. SUEVOS e VÂNDALOS, ALANOS e VISIGODOS esmagam o império dos Césares e se estabelecem também no território espanhol.
Dessas hordas bárbaras, a última a chegar foi os VISIGODOS, que aí fundaram um império autônomo.
     "Os visigodos - escreve Fauriel - eram menos bárbaros que os bandos selvagens aos quais substituíram: faltava-lhes  o feroz instinto de destruição que caracterizavam os outros conquistadores, como, por exemplo, os SUEVOS. Não pretenderam mais que a superioridade política sobre sobre o país conquistado ao qual deixaram o libérrimo uso da língua e costumes, mostrando-se antes dispostos a tomar-los do que imprô-lhes os seus próprios; e  se a civilização romana pereceu durante o seu domínio não foi porque  assim o quisessem eles, mais unicamente pelo ascendente natural e involutário da barbaria".
     Mas o império visigótico durou pouco: o povo entregara-se aos prazeres e, corrompido, fraco, não pudera resistir a uma nova invasão do território espanhol - a invasão dos ÁRABES, que se deu no ano 711. Esboroa-se o trono de RODERICO aos
golpes de CIMITARRA MUÇULMANA, empunhada apenas por doze mil homens, na batalha de GUADALETE. Tal eara a miséria moral que lavrava no império! Os descontentes, os oprimidos, os servos covardes, foram esses os que mais contribuíram
para a ruína do primeiro império visigótico.
E - Os Árabes:
     Novos conquistadores, os árabes se dissiminaram pela Espanha e fizeram dela a sua segunda pátria. A fertilidade do solo, as belezas naturais da terra a magnificência definitiva dos monumentos romanos, tudo os convidava a uma permanência
definitivae e os estimulava a continuar, melhorando-a, aquela civilização. Em Córdova, que se tornou rival de Bagdad (Iraque), estabeleceu-se em 756 a dinastia dos OMMÍADAS, que havia sido destronada de Damasco (Síria) pelos Abássidas. Os
Ommíadas exerceram o califado na península até 1301. Os monumentos árabes erguidos na Espanha, durante esse tempo, ainda hoje podem, na sua maior parte, ser admirados, testemunhando eles os pendores artisticos, o gosto e a inteligência
da raça. Foram os árabes os que mais funda impressão deixaram na feição moral e estética do povo espanhol.
     "Bem certo é - escreve F. Pinheiro - que os cristãos refugiados nas montanhas das Astúrias, sob o mando dos príncipes visigodos, guardaram piedosamente culto, tradições e língua. mas não é menos certo que o restante da nação se confundiu
com os árabes tanto quanto lhe permitiu a radical diferença das respectivas religiões.
     Tão completa era a fusão das duas raças, que já no décimo século, para conservar a verdadeira tradição da Igreja, viu-se obrigado o bispo de Sevilha, João, a mandar traduzir e comentar a Bíblia em árabe; visto como a maior parte dos fieis não
compreeendia o latim.
     Repetidas vezes encontra-se nos historiadores a expressão MOZÁRABES ou MOÇARÁBE (do árabe MUSTOARABI, isto é, estrangeiro. Cristão sujeito aos muçulmanos) designando os cristãos que haviam adotado a língua e o traje dos muçulmanos:
constituiam eles as classes média e íntima da população, que foram pouco a pouco cedendo passo à aristrocracia formada pelos guerreiros vencedores dos árabes. Entre estes mesmos alguns houve, como Servando, Samuel e Hortogesis que, deslumbrados pelas graças da civilização oriental, filiaram-se em sua literatura, e aceitaram governos e postos importantes na côrte de Córdova; enquanto  que os plebeus, estreitamente vinculados ao clero mantinham o uso do latim, degenerando e convertido em idioma vulgar.
     Depois de instituído o califado de Córdova, começam terríveis lutas entes este e os cristãos fixados nas Astúrias, lutas que se prolongaram até os século XV ou, mais precisamente,a té o ano de 1492, data da tomada de Granada e da expulsão dos
MOUROS da Peninsula Ibérica por Fernando, então rei de Aragão e Castela. No período a decorrer daquelas lutas, os cristãos haviam conseguido fundar alguns reinos, como Aragão, Castela, Leão (deste veio Portugal) e Navarra, que equipararam-se em
força com os muçulmanos. Depois da expulsão destes, a Espanha pôde ascender ao seu apogeu e estender as suas colônias, nos reinados de Carlos V (era este o monarca espanhol que quando Francisco Orellana descera o Grande Rio das Amazonas)
e de Filipe II (foi no período deste Monarca que Portugal ficara sob sua égide de 1580 as 1640, assim com todas as Colônias de língia portuguesa, inclusive, o Brasil).
     Através de todas essas vicissitudes, dessa sucessão de raças dispares sob tudo o ponto de vista, do caldeamento inevitável, pode-se fazer uma ideia da complexidade dos elementos étnicos que contribuíram para a formação da raça
espanhola, - já não dizemos da de hoje, - do décimo terceiro século, quando começa a verdadeira literatura nacional, que teve o nascimento em Castela, O Estado mais importante.
II - A Língua:
     A língua que se falava na Espanha, antes da conquista árabe, era o ROMANCE, isto é, o SERMO VULGAREIS ROMANUS ou latim vulgar adulterado pela contribuição vocabular ídigena. As mais importantes modificações desse latim, que se transformou
no romance, repousam na contribuição da língua dos GODOS. Com o temo e a supremacia política dos árabes, essas modificações se acentuaram tomando a língua falada pelo povo uma feição característica, por influência do elemento árabe.
O árabe chegou a dominar por algum tempo tão fortemente,  que a maior parte do povo só falava e entendia essa língua.
Mas, pouco a pouco, a reação se foi fazendo, até atingir o seu ponto culminante com a criação de novos reinos pelos cristãos.
Em igualdade de forças, árabes e cristãos, puderam estes impor a língua, que se pode dizer nacional.
     É de admirar que, num país onde sobreviviam tantos grupos étnicos, pudesse se dar tamanha unidade linguística, como a que se verifica com o ROMANCE espanhol, aceito e falado então por todos. Os árabes conquistadores eram o inimigo comum:
derrotar esse inimigo era o desejo de todos, de godos e romanos. E ligaram-se estes então, pela restauração da terra que consideravam sua, envolvendo essa comunhão de nacionalidade, de ideias e de esforços a comunhão de língua.
     E do concurso de todos esses elementos resultou uma  língua nobre e singela, abundante e sonora, tão melodiosa, que Carlos V (Monarca espanhol) chegou a dizer, certa vez, que nenhuma linguagem havia mais apta, que a IBÉRICA para falar
a DEUS. Efetivamente, o castelhano foi a língua da fé e do amor, a sublime e admirável línguas da poesia.
     O ROMANCE, chamado a princípio ESPANHOL, - do nome com que fenícios, em pristina era, haviam apelidado o povo CELTIBÉRICO, - tomou a designação de CASTELHANO, quando o dialeto de Castela, o primeiro se tornou língua leterária,
se sobrepôs aos demais, logo depois da expulsão dos muçulmanos da Peninsula Ibérica.




      José Epitácio Carneiro (C.P.G.)
(Abhohad Zhohah)




Fonte:  Dos livros históricos sobre as grandes civilizações e as origens linguísticas.

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