segunda-feira, 2 de julho de 2012

AS GUERRAS E OS COMBATES ENTRE OS POVOS ANTIGOS.



     Joel não sabe o que é a paz. Ele a definiria como um estado eminentemente provisório entre dois combates, aquele em que os hebreus tratam dos ferimentos e se preparam. De fato, em toda a sua longa história, os hebreus só conheceram brevíssimos períodos de paz. Suas guerras foram ofensivas na época da conquista da erra de Canaã e da expansão do reino sob os reinados de Saul, Davi e Salomão. Todavia, com maior frequência, foram defensivas. Enfim, tiveram de travar combates desesperados contra impérios onipotentes que acabaram esmagando-os.
     Como toda atividade humana, a guerra é um ato essencialmente religioso. As leis da guerra definidas pela Bíblia atestam que Joel só espera a salvação da vitória de IAHWEH ELOHIM, e unicamente Dele. Na época nômade, o símbolo da presença de Deus entre os exércitos no campo de batalha era a Arca do pacto de IAHWEH, lugar de sua presença real. Se IAHWEH sai com os exércitos de Israel, estes vencem. Sua derrota é apenas o indício da ausência de ELOHIM, que não apoiou seu povo para puni-lo por seus pecados.
      A presença de Deus entre os combatentes exige que eles estejam em estado de pureza ritual. Em tempo de guerra, Joel não se aproxima de sua mulher, e se, se torna impuro por acidente - uma polução, por exemplo -, afasta-se do campo para se purificar.
Afora essas regras de pureza, a Bíblia só fornece breves indicações sobre as condutas das guerras: o sacerdote deve exortar previamente os combatentes. Os soldados que começaram a construir uma casa, a plantar um vinhedo ou que acabam de se casar devem ficar isentos da mobilização, assim como aqueles que declaram não estar em condições de combater por falta de coragem. As leis são o reflexo de um tempo em que o serviço militar se fazia  na tribo com base num alistamento voluntário. O Deuteronômio exige ainda que os habitantes cananeus das cidades conquistadas sejam exterminados. Se não forem cananeus, a lei exige que se façam propostas de paz antes do combate. Se a cidade se render sem combater, será anexada, caso contrário, numa eventual derrota, os homens são exterminados, as mulheres, as crianças e todos os bens, apreendidos à guisa de despojo.
     Ao lado dessas leis, que estão bem de acordo com o espírito da época, e não só dessa época, um contraponto: os guerreiros jamais têm o direito de derrubar árvores frutíferas durante as operações, sem dúvida para não empobrecerem, no futuro, os recursos alimentícios. O despojo deve ser repartido equitativamente entre os combatentes e o conjunto do povo. O despojo compreende os cativos, que se tornam escravos dos vencedores. Joel pode perfeitamente tomar como mulher uma dessas belas cativas, mas só depois de ter-lhes concedido um mês de trégua em casa dele, para que ela possa aplacar a dor e os temores.
Se ele repudiá-la, não terá o direito de vendê-la, mas a obrigação de libertá-la gratuitamente.
     A Bíblia e a literatura geral da época falam muito de guerras, mas só as descrevem sucintamente. Para termos uma ideia das operações militares, dispomos de importantes vestígios arqueológicos, que nos permitem representar a estratégia e a tática geralmente adotada pelos exércitos, ainda que todos os textos da época atribuam grande peso à intervenção dos deuses. ELOHIM sempre participa dos combates de seu povo: Ele manda uma pesada  chuva de granizo, uma chuva de estrelas ou até interrompe a evolução do sol no céu para ajudar a vitória dos seus. Mas, como veremos, os guerreiros devem combater e compensar sua desvantagem numérica com a vontade de viver e inesgotáveis astúcias de guerra. Estas tinham maior chance de êxito devido à quase inexistência de meios de comunicação. Os exércitos recebiam as ordens antes do combate, e se as táticas não correspondessem ao plano preestabelecido logo eram presas de pânico.
     Antes da época real, quando o exército é uma emanação da tribo, os soldados são, ao mesmo tempo, mal preparados e mal equipados. A guerra se resume, forçosamente, em ataques surpresas, limitados no espaço e, sobretudo, no tempo. A tática preferida é lançar um reide ou armar uma emboscada para surpreender o inimigo e, na medida do possível, desnorteá-lo antes que ele dobre as forças. A noite ou o raiar do dia são os momentos propícios para tais manobras, algumas das quais, como a de Gedeão, tornaram-se a justo título lendárias. A saga se apropria dessas façanhas e as descreve em termos líricos, sublinhando que a vitória sempre sorri ao astucioso pequeno Davi em face do gigante Golias.
     No entanto, a vitória assim obtida só é completa com a destruição das forças do inimigo; Daí as intermináveis perseguições dos desertores, cuja retirada se corta na medida do possível. Joel também sabe que se Deus é um "deus das montanhas", por isso evita o caminho das planícies, onde os carros de metal dos cananeus são invencíveis. Ele prefere atrair o inimigo para as montanhas, de que conhece todos recônditos e a que os temíveis carros não têm acesso. Em casso de cerco de uma praça-forte, Joel tenta atrair os inimigos para fora das marulhas ou procura descobrir os acessos secretos da cidade.
     Na época real, a estratégia muda. Ela exige, em campo aberto ou no centro das cidades, um exército poderoso e bem equipado. A relação de forças é que decide a batalha, daí a política de investimento dos reis. Os carros são lançados nos combates por corpos de cinquenta unidades bem treinadas. Os cavalos aparecem nas batalhas deste a origem do poder real, no início do primeiro milênio antes da era cristã, mil anos depois dos carros. Salomão mantém em Megido e em outras praças estábulos de considerável magnitude. Na época de Acab, o exército contava dois mil carros e vinte e cinco mil  infantes envolvidos na Batalha de Carcar. Supõe-se que os carros e os cavaleiros laçassem o ataque destinado a romper a frente do
inimigo, seguidos dos infantes, que tinham a missão de exterminar os sobreviventes. Quando as forças dos grandes impérios se abatiam sobre o país, a tática consistia em encerrar-se em cidades fortificadas para deixar o ataque passar com o mínimo de perdas. A maioria das guerras apresentava esse tipo de estratégia, notadamente contra  os assírios e os babilônios, cujos exércitos onipotentes eram dotados dos meios técnicos mais aperfeiçoados. Felizmente para os hebreus, esses exércitos operavam longe de suas bases e não podiam eternizar-se em cercos de vários meses por falta de equipamentos suficientes - todo cerco requeria operações  complexas, infantes, fundibulários, sapadores, arqueiros e operadores de aríetes e de torres contra as muralhas. Daí o fortalecimento das muralhas das cidades de Judá e de Israel, sempre prontas a sustentar um longo cerco, de acordo com técnicas defensivas aperfeiçoadas.


     SHALOM!

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